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Publicado em 24/03/2019
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Quando não tem respeito as relações se deterioram, reflete ex-gerente fiscal

Texto: Weverton Campos
Foto: Arquivo pessoal

Mônica de Araújo Saldanha é auditora fiscal aposentada da Receita Estadual do Espírito Santo. Ela ingressou na Sefaz (Secretaria de Estado da Fazenda) em 1984 e se aposentou em 2017. Durante os últimos 20 anos de carreira, ocupou alguns cargos de chefia. Apesar de historicamente os Fiscos brasileiros serem "comandados" por homens.

Ela é a última auditora entrevistada pelo Sindifiscal, como forma de representar e homenagear as mulheres neste mês que simboliza a luta feminina pela igualdade de gênero em suas mais variadas formas.

Saldanha lembra que morava em Campos dos Goytacazes (RJ) e, em razão de ter passado no concurso público, teve de ir morar em Ecoporanga, Extremo Norte do Espírito Santo. Na época, a maioria absoluta dos auditores fiscais era de homens mais velhos, pelo menos era assim naquela região, mas ela se disse bem recebida.

"Fui morar na cidade e eles me aproveitaram para fazer plantões de fiscalização volante na escala 24h por 24h e fazia alguns trabalhos internos na antiga Coletoria”, diz.

Treze anos depois de iniciar na Receita, Mônica assumiu a Chefia de Departamento da Substituição Tributária, que tempos depois se converteu em Subgerência. Em 2008, assumiu a Gerência Fiscal, onde ficou até o ano de 2015, quando pediu exoneração e não assumiu mais nenhum cargo de confiança.

"Sentia que meu trabalho era reconhecido e o resultado aparecia nos números, mas talvez pelo próprio senso masculino, os nomes lembrados para assumir algumas posições eram na maioria das vezes de homens. Nunca almejei função além das que ocupei, mas observava. E não foi uma coisa que me chateou, é só uma constatação. Uma questão de conjuntura. Aí você pensa, reflete", diz Mônica.

Segundo a auditora aposentada, a transição da Substituição Tributária para a Gerência Fiscal foi bastante tranquila. "Fui convidada na época pelo Bruno Negris, então Secretário de Estado da Fazenda. As pessoas que estavam na linha de comando da Sefaz formavam um grupo preocupado com o desenvolvimento do Estado, com a estruturação da Secretaria e com o aumento da arrecadação. Então foi muito tranquilo trabalhar ali. Porém, sei que algumas conversas que rolavam na ala masculina, e eu não participava, se davam somente pelo fato de eu ser mulher. Mas não deixei isso afetar o meu trabalho", afirma.

Sobre a condição da mulher no país, recordista em feminicídios e ainda bastante preconceituoso, Mônica diz que tudo na vida tem de passar pela confiança e pelo respeito. "Primeiro de tudo tem que se ter respeito. Quando não tem respeito as relações se deterioram. Para mim essa palavra é fundamental: você respeita o meu lugar, eu respeito o seu e a gente convive junto", argumenta.

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