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Publicado em 12/03/2019
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Foi uma experiência única, relembra primeira mulher auditora a presidir o Sindifiscal-ES

Texto: Weverton Campos
Foto: Dayana Souza

A auditora fiscal da Receita do Estado do Espírito Santo, Zenaide Maria Tomazelli Lança, foi a primeira mulher a presidir o Sindifiscal-ES. O sindicato foi fundado em janeiro de 1991 e desde então só havia sido presidido por homens, reflexo da carreira majoritariamente masculina (90% do quadro).

Segundo Zenaide, que presidiu a Diretoria Executiva 2015-2017, a experiência foi muito difícil, mas ao mesmo tempo bastante agregadora. "Foi uma experiência única, algo que eu jamais havia almejado. Um desafio muito grande, mas ao mesmo tempo muito enriquecedor, porque pude ter contato mais profundo com os colegas", relembra.

Para ela, a dificuldade morava principalmente no fato de nunca ser possível agradar a todos nas tomadas de decisão, o que é muito comum em processos democráticos.

"No sindicato você tem que ficar lutando pelo direito das pessoas e às vezes trava uma luta que atende parte da categoria e outra parcela critica, porque acha que a investida foi errada e o tratamento deveria ter sido dado de outra forma. É muito difícil agradar a todos, apesar de o objetivo não ser esse e sim resolver os problemas", declara.

Zenaide argumenta que quem vê de fora acha que é fácil conduzir uma entidade como o Sindifiscal-ES, que possui mais de 1,2 mil filiados entre auditores fiscais e auxiliares fazendários ativos, aposentados e pensionistas. "A gente acha que é fácil, mas o avanço é sempre muito pequenininho em relação ao esforço aplicado", diz.

A presidênciaPREMIACAO_Dayana Souza_ 37

Tomazelli lembra que foi encaixada em uma chapa praticamente pronta e que antes não havia participado de discussões da categoria. Mas mesmo sem ter experiência com o sindicalismo, e de ser a única mulher na Diretoria Executiva, afirma ter encarado a responsabilidade e não abandonou o barco.

"Foi um mandato com saldo muito positivo, principalmente por conta do teto, que era o maior gargalo. A quebra só veio a acontecer no início deste ano, mas foi tudo resultado da luta travada a partir de 2015 e 2016", diz. "Eu me sinto vitoriosa, orgulhosa, mesmo com todos os percalços. Avançamos como queríamos? Não. Mas avançamos", enfatiza.

Chefia na Sefaz

Por quase um ano, Zenaide, que ingressou na Sefaz-ES (Secretaria de Estado da Fazenda do Espírito Santo) em 1984, também foi Supervisora Regional da Receita, apesar de sempre ter demonstrado preferência pela ponta (a fiscalização).

"O pouco tempo em que chefiei não permite fazer uma avaliação profunda. Mas claro que tem um olhar receoso do homem quando uma mulher está no comando, principalmente numa carreira como a nossa. Eles têm uma resistência pré-concebida de não acatar às diretrizes. Não é um desacato escancarado, afinal seja homem ou mulher no comando, existem os meios legais de se fazer cumprir o que é estabelecido. Mas é nítido aquele ar de desconfiança, aquele olhar de desconforto por estar recebendo uma diretriz de mulher. Mas lógico que há exceções", destaca.

Tomazelli acredita que conforme os anos forem passando, a situação será amenizada. "É uma conscientização. E como toda conscientização, o processo é demorado. Mas acredito que chegaremos a um momento em que não haverá diferença e a mulher será plenamente respeitada", finaliza.

Violência contra a mulher

A auditora também fez uma reflexão acerca da escalada da violência contra a mulher no Brasil. Pesquisa encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, executada pelo Datafolha e divulgada no dia 26 de fevereiro, concluiu que mais de 500 foram agredidas fisicamente a cada hora em 2018. E na maioria dos casos (76%) por pessoas conhecidas.

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"Eu acho que é devido ao encorajamento em denunciar. Como ela está sendo ouvida e recebendo apoio dos órgãos de repressão, isso fez com que a mulher superasse o medo e a vergonha e mostrasse suas feridas. E cada denúncia encoraja outra mulher vítima de violência a fazer o mesmo. E assim esse crime que geralmente acontece dentro de casa, às escondidas, está cada dia mais nos noticiários e isso é resultado da conscientização da mulher que decidiu que não tem mais que ouvir o que não quer, fazer o que não quer e muito menos sofrer violência física, seja por qual motivo for", diz.

"O homem violento ainda não percebeu que este é um caminho sem volta: ele ainda acha que para conter o grito da mulher precisa calá-la com mais violência, daí o assustador número de mortes por feminicídio que infelizmente  aumentam as estatísticas a cada dia neste país", completa.

Apesar do quadro assustador, Zenaide acredita em um futuro melhor para todos. "Eu quero crer que estamos chegando ao topo dessa escalada e que a tendência é a diminuição desse crime, com efetivas punições dos criminosos, apoio da sociedade e instituições  que precisam continuar a encorajar a mulher vítima de violência machista a denunciar sempre", finaliza.

A mulher auditora

Em homenagem a todas as mulheres que integram o Fisco capixaba, o Sindifiscal estará, no decorrer dos próximos dias, publicando outras experiências de auditoras ao longo de suas carreiras.