A combinação de uma pressão inflacionária persistente com a perspectiva de forte desaceleração das grandes economias globais, somada a um ambiente doméstico também incerto, faz com que agentes de mercado se mostrem bastante cautelosos com o desenvolvimento do quadro macroeconômico.
“Não tem motivo para ser otimista no curto prazo com a dinâmica econômica dos mais diversos países”, afirmou Daniel Leichsenring, economista-chefe da gestora de recursos Verde Asset Management, durante evento virtual promovido pela Icatu nesta terça-feira (19).
No cenário local, Leichsenring disse que a proximidade das eleições e as sinalizações que têm sido transmitidas pelos dois principais candidatos na disputa não trazem qualquer alívio sob a ótica econômica.
O economista-chefe da Verde afirmou que as manobras na política fiscal, mais recentemente com a aprovação da PEC (proposta de emenda à Constituição) que amplia benefícios a três meses do pleito, é um ponto de preocupação no radar dos investidores.
“O rompimento das instituições fiscais e eleitorais que a gente teve no último mês, e que já vem desde o ano passado, é um negócio extraordinário”, afirmou Leichsenring, que também fez menção ao encontro promovido na segunda-feira (18) pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) com embaixadores para “questionar de maneira preventiva o processo eleitoral.”
O cenário deixa o país em uma “situação em que as alternativas que se encontram aí são muito ruins, cada um com sua característica.”
O governo do PT, afirmou o economista, produziu a “maior catástrofe de crescimento e a maior recessão de que se tem notícia no Brasil desde que se começou a medir o PIB, em 1901.”
Ele disse ainda que o programa de campanha da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e as declarações que têm sido dadas pelo candidato petista, “são claramente uma volta para todos os pilares que resultaram na tragédia de crescimento”.
“Do ponto de vista estritamente econômico, é uma volta ao passado de maneira importante que o país simplesmente não tem margem de manobra fiscal para aguentar.”
Leichsenring disse também que, caso o governo do PT confirme o favoritismo apontado nas pesquisas de intenção de votos, e siga a política econômica que tem indicado até aqui, “muito provavelmente vai dar errado, com recessão, inflação mais alta, desemprego, queda da renda real.”
Além dos desafios próprios do país, o economista-chefe da gestora assinalou que, no cenário internacional, a dinâmica econômica também não é das mais positivas.
Segundo ele, as grandes economias globais ainda não chegaram ao pior momento em termos do ritmo da atividade econômica, o que o especialista estima que deva acontecer na virada de 2022 para 2023, ao mesmo tempo em que os dados de inflação não começaram a mostrar claros sinais de arrefecimento.
“O mundo está passando hoje pelo que talvez seja o auge do processo de desestruturação das cadeias produtivas e pelo choque de custos e também com uma desorientação das cadeias de commodities“, afirmou Leichsenring.
Ele acrescentou que, no contexto global, atravessamos uma combinação “muito particular e perversa de vários países caminhando para uma desaceleração profunda e, em alguns casos, para uma trajetória de recessão, com um processo inflacionário muito alto e muito longe de se dizer que é coisa do passado.”
Fonte: Folha de São Paulo